quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Respirar


Estou pensando em parar de suspirar. Percebi que uma parte da minha alma se contorce por dentro quando me permito profundamente trocar o ar que já não me alimenta mais. Não sei se é magia, alquimia ou simplesmente fisiologia barata, mas percebi que ultimamente tem sido cada vez mais difícil o retornar do nobre ato.
Talvez seja porque apenas suspiro quando todas as palavras não funcionaram. Ou quando nem as pude encontrar. Ou quando invoco o que escondo. Talvez porque inconscientemente eu pretenda engolir o mundo (ou o problema que ele me apresenta discretamente, me encurralando...) e o mundo não cabe no meu pulmão. Desesperado, pula para fora, levando algumas esperanças perdidas com ele. Maldoso.Cruel. Eficiente suspiro.
Estou pensando em respirar curtinho, exatamente da forma que minha professora de dança disse para não fazer, e que o Yoga condena. Só para ser superficial um pouco, fazer de conta que não vejo, que não sei, que não sinto, que não vi... Só para ficar mais fácil. Chega de sair fulminante, arrasando o peito, levando tudo, e deixando vazio.
Vazio. Puxa, dele eu passei a gostar. Sem ele para abrir caminho nada encontra pouso na alma cansada do velho... Eu preciso esvaziar...
Se não suspiro, não solto, se não solto, não posso voltar a entrar...
Então, o que fazer, respiro, suspiro, piro, pode ser?
De volta à certeza de que dor existe para ensinar.
Não há mais como voltar. Depois que se entra onde não se pode enxergar, o suspiro se torna cúmplice da caminhada. Revela, revira, põe para fora milênios de esconderijos. O que não se consegue mais guardar. O que pode dilacerar de não se libertar.
Eu me rendo à sabedoria da vida, onde tudo é como deve ser, e suspiro então. Apesar de dolorido, ele sorri de mansinho, com a certeza sarcástica de que cura fazendo doer. Que remédio?
Se não posso parar, então que seja belo. Que traga o novo para dentro, e nem me faça lembrar do que vai. Que seja meu amigo, parceiro, que diga que está tudo bem.
Que me coloque mais perto de mim, alinhe o eixo da vida, acorde o que ainda descansa. Que ilumine desconhecido, que revigore do cansaço.
Se é de ar que preciso, que seja. Mas que seja "o" suspiro então. Que abale tudo. 
Se é para revirar, que cause toda a diferença.
E vamos trocar vida!
Que assim seja.