segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Amor, Dor e Brigas

Este Novo Portal da Lua Cheia de Agosto trouxe à tona as nossas relações...



Chamou ao palco nossos relacionamentos, todos eles, para serem analisados, cuidados, reavaliadosamados, perdoados, curados e transformados.
E através dos relacionamentos, tudo que não podemos ver sobre nós mesmos, apenas mergulhando na própria alma, também é revelado.

Somos difíceis de nos relacionar. Precisamos que os relacionamentos nos apoiem no que não temos tanta certeza e que nos escutem no que achamos que temos muita certeza. Ou seja, queremos sempre nos impôr aos que nos são caros - ou nem tanto - para reforçar nosso poder pessoal, e esperamos que o outro apenas aceite. Mas eles estão se sentindo exatamente como nós, carentes de poder pessoal, necessitando de apoio... e a guerra acontece.

Infelizmente as pessoas brigam... As pessoas se decepcionam, se frustram, se irritam com sua impotência diante da vida. Dói.
De repente algo acontece e não gostamos, não suportamos, e não podemos evitar. Queremos algo diferente, que os outros mudem, que nos apoiem, que nos tirem daquele sofrimento que parece não ter fim. E se nada disso acontece, muitas vezes brigamos.
Brigamos porque queremos apoio, um apoio que não querem nos dar.
Mas será que estamos assim tão certos? Por que o outro não apoia? Será que abrimos nossas mentes para ver o que ele vê, nosso coração para sentir o que ele sente? Ou estamos duros, intransigentes na nossa dor?

Dor não significa razão.
Cada um defende as suas da sua forma, e um emaranhado de confusão, agressividade e cobrança se forma nas nossas vidas. 

Palavras fortes, verdadeiros socos verbais que são difíceis de esquecer.
Muitas pessoas já estão em briga com a vida há muito tempo. Suas almas sofrem tanto que basta uma atitude fora da sua expectativa para proferirem palavrões sem pensar. A energia que cada palavra desta carrega de raiva é enorme...chega ao peito do outro como um golpe fortíssimo, quase igual ao físico... é muito triste. Às vezes são amigos, amantes, pais e filhos, ou desconhecidos. Mas dói mais quando o Amor entre as pessoas é maior.
Dói em quem profere a palavra, em quem que a recebe sem aviso.

Brigamos porque estamos tristes, ofendemos porque não conseguimos lidar com nossa dor e estamos jogando tudo ao mundo, espalhando nossas decepções por aí, nos sentindo incapazes de resolver nossos desafios.
Não, não brigamos porque o outro é errado, porque não vê a verdade que vemos, porque as pessoas não são capazes e não nos ajudam. Brigamos porque sentimos dor.


Se o problema fosse apenas o outro, conversaríamos. Se apenas ele estivesse errado, teríamos calma para escutar e ajudar a consertar.

Brigamos porque perdemos o controle das nossas emoções, das nossas ações, porque sentimos tanta frustração e impotência que não conseguimos nos segurar. E machucamos.
Quando os dois lados estão assim, então, a briga fica incontrolável.
Mas quando apenas um lado perde o controle, a briga fica curta, previsível. Não se estende, mas alguém sai mal por ter machucado, e alguém sai aos trapos por se deixar machucar tanto.


Brigamos, ofendemos, nos perdemos de quem amamos, justamente por não saber escutar. Pelo orgulho de não mudar, não aceitar, não perdoar. Pela arrogância de querer saber o melhor para todos. 

Pelo medo de deixarmos de ser quem somos apenas por tentar ser mais flexíveis, mais fáceis de lidar, por quem queremos bem. Por não entender que somos todos diferentes, mas temos igual valor neste mundo, mesma oportunidade de existência e aprendizado. Estamos juntos para aprender exatamente isso, e não vemos na crise que, se fossem todos iguais a nós, todas as vidas estariam estagnadas.
Mas aprender com o diferente, não é brigar.
No Amor, seja ele qual for, brigar é retrocesso. Não ajuda, não alivia, não resolve. A briga ofende, agride, deixa marcas difíceis de curar.

Seja qual for o motivo pelo qual nossa dor floresce no peito, ela é nossa. A incapacidade de lidar com ela é nossa. A responsabilidade por ela e o que ela pode fazer aos outros, é nossa. Nós a criamos. Não, não foi o outro que criou nossa raiva, ou angústia, como nosso Ego quer nos fazer acreditar. O outro é apenas o obstáculo, o motivo da mudança, o degrau do aprendizado. A forma como lidamos com isso é apenas nossa. O outro está lá justamente para nos mostrar o nosso limite, nosso equívoco, nossa dificuldade de nos controlar, nos conhecer, de mudar.

Na maioria das vezes perceber isso, já ajuda muito. Saímos do pedestal de sofredores e vítimas daqueles que insistem em nos rodear, e voltamos para nosso lugar de seres em crescimento e autoconhecimento no mesmo nível de todo mundo. 
Se alguém nos incomoda muito, temos algo a aprender com esta pessoa. E enquanto não aprendemos, ela ou outras parecidas irão nos desafiar. Até aceitarmos o desafio e o abraçarmos inteiro, incondicionalmente, sozinhos.
E aí fica mais simples. Vemos primeiro para dentro, e depois para fora. Qual é nosso ponto fraco, e não o do outro.

Com o tempo, mudamos, e o outro se vai. Ou fica, mas muda. Ou nem muda, mas agora já não nos afeta. O fato é que não sentimos raiva, impotência, indignação ou incompreensão. Sentimos controle e poder em qualquer situação, seja favorável ou não. Isso é ser forte.

E no final, vamos um dia agradecer pelo outro não ter fraquejado. Seja ele certo ou errado, nosso desafio ou o amor da nossa vida, será através dele que uma parte nossa se libertará. E sentiremos alívio por ele ser ele e não quem vc sempre desejou que ele fosse.
Sentiremos um alívio impensado hoje,
por estarmos errados, e não certos.
E aí, a briga termina. Simples assim.