segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Depois do Eclipse... liberdade!

Dentro do me peito impera um enorme vazio.

Não é o vazio ruim, aquele da ausência de tudo. Não. É um vazio estranho, feito da enorme inconsciência do que esconde. É mais um vazio de saber, do que de ser. Aliás, de ser não há vazio algum... há fome.

Fome de experimentar, de fazer, de testar, criar... de viver. Fome intensa de tudo que não foi feito, sentido, trocado, pedido, dado ou recebido.

Fome intensa de coisas que não sei que formas tem, mas que invadem meu coração, pedem passagem em um pedido silencioso e intenso, que quase sempre chega emoldurado em lágrimas. Mas não são choro, são alívio. Alívio em forma de água salgada.

Por tantos anos tudo foi sempre igual.
Lutas por migalhas de amor e atenção, por carinhos pequenos acompanhados de tantos julgamentos e cobranças, decepções, frustrações, lamentações. Enormes esforços para cada momento de reerguer e continuar, sempre só. Sempre por mim mesma.
Tantos anos sem ter para quem pedir, com quem contar, de quem esperar apoio ou celebração.

Tanto tempo se esforçando o máximo para receber o mínimo. Isso causa muita dor. Pesa na alma, encarcera a visão pura da criança de Luz.

Sinceramente, eu sempre falei com minha criança de Luz, mas fui a única a se importar com ela. Ela não vive, se esconde, sobrevive entre meus segredos, entre as entranhas da minha mente lógica e razoável, cantando no chuveiro, chorando escondido, de alegria ou de dor. Ela canta, dança sozinha, sonha, fala de coisas impossíveis... e escreve. Escrever sempre foi seu modo de existir.

Esta criança esquecida, não cuidada nunca por ninguém - hoje me dei conta de que ela nunca foi ouvida, nem quando cronologicamente eu era compatível com ela - precisava se libertar.
Não há um só dia, momento ou segundo de espera. Há o agora, há todo momento.

Ela quer viver o que não foi permitido, experimentar o que foi negado, libertar o que foi julgado.

Na ânsia de receber respeito e amor, ela se deixou esconder... afinal, quem ama uma criança cheia de vontade, de rebeldia, com várias visões diferentes das coisas e do mundo? Quem ama quem não concorda, quem não tolera, quem não aceita, quem não respeita?
A minha criança sempre foi "exemplar". Obedeça, obedeça, obedeça. Não minta, não fuja, não resista. Seja forte. Aceite a realidade, compreenda as regras, lute a favor, defenda os valores, amplie o que já existe.

Não dê problema aos outros. Não crie confusão. Seja a solução, crie soluções aos que não conseguem fazer por si mesmo. Ajude os menos favorecidos. Dê mais que recebe. E, depois de tudo isso, fique imensamente exausta, pois nunca será o suficiente, e deixe de ser você mesma.


Eu queria Amor, e comprei a ideia de que a criança atrapalharia nesta conquista tão fundamental a qualquer ser humano. Amor para mim foi vendido como algo feito de respeito e admiração, e o busquei por toda uma vida (ou mais delas, com certeza...). Fui respeitada e admirada, como previsto no meu código de honra... e para minha surpresa, não me senti amada ou aceita. Nunca.
Fiz tudo "certo", fui forte, lutei, provi pessoas, construí coisas. Mas nunca fui amada.
Como poderia ser amada se minha verdade se escondia para ser o que esperavam que eu fosse? Como pode receber amor uma realidade que nunca foi realmente exposta e conhecida?


Hoje, depois de tantos anos tirando cascas e cascas de dogmas, dores e regras emboloradas de cima da minha Luz, eu sinto finalmente que sou muito mais interessante que pensei. 

Tenho ideias inusitadas, vontades inexplicáveis, pensamentos inovadores e polêmicos e provavelmente agradarei muito, muito menos que antes aos que tanto tentei conquistar. A minha grande porta de libertação é que não me interesso mais por esta conquista vazia, desenfreada e inútil por amor comprado e condicional.

Existem pessoas que não se sentiram amadas a vida toda por não terem sido aceitas como são. 
Eu quase sempre fui aceita, mas apenas porque decidi abrir mão de quem sou para isso. Sinceramente, eu não consigo quantificar a dor de todos. Dor é sempre dor.

Mendigando o carinho e o respeito que pensei precisar para viver, abri mão de ideias, de sonhos, desejos secretos e verdades que sempre cultivei internamente. Abri mão de descobertas, loucuras, riscos e conquistas. Nunca mais.

Hoje, quando posso olhar em volta e sentir Amor no ar, na terra, no sol, no mar, nas plantas, no meu corpo e na minha alma, não me sinto mais vítima de chantagem alguma. Sinto minhas lágrimas rolarem, mas acredito que sejam de alívio, de cansaço, de alegria até...menos de tristeza.
Eu passei da fase de sentir pena de mim. Precisei chorar a perda sim, tocar meu tambor da dor, mandar meus uivos de tristeza para a lua... mas acabou.
Sou uma pessoa fantástica, como todas as pessoas que existem. Tenho peculiaridades, esquisitices, manias e belas surpresas dentro de mim, e amar tudo isso é agora meu desafio mais perfeito e querido.

O Amor que senti ultimamente vindo do Cosmo banhando a humanidade e o planeta fez um enorme processo de cura dentro de mim. A Liberdade incondicional de ser amada como sou, de escutar um Mestre me dizer "O que precisa para ser feliz? Você será atendida, seja no que for, dentro da sua Luz", sem condições, sem críticas, cobranças, julgamentos ou trocas... é maravilhoso. Simples assim.


Há sim um vazio dentro de mim.
Um vazio deixado por tudo que joguei fora. As necessidades, as perdas, as comparações, cobranças e inseguranças de alguém que precisava ser aceito para se aceitar. Um vazio bom, libertador, que agora abre espaço para que minha Luz se liberte.
Eu sei que farei coisas novas. O mundo agora me parece um enorme mar de possibilidades sem fim.
Eu estou na praia da vida, nua, livre, pronta para meu mergulho de batismo. Sentir a água salgada no corpo, e poder nadar para qualquer lado, a qualquer velocidade ou direção, parar ou seguir, reiniciar ou voltar, poder escolher sem peso algum, é inexplicável.


Eu não sei quantas pessoas se sentem assim em suas curas. Mas sou solidária a todas elas.


Amor... aí vou eu. Para nunca mais voltar.