Não basta apenas tentar intensamente.
Não basta se embrenhar em uma causa com corpo e alma.
É necessário mergulhar sem ressalvas atrás de um
objetivo. Ou de um sonho. Porque tudo, tudo, só é conhecido no fundo. No
profundo dele mesmo.
A coragem inicial precisa ser forte e decisiva. Acho que até
meio burra, para não amarelar. E isso é bom.
Eu queria tentar, mesmo com tudo contra mim. Mesmo parecendo loucura, mesmo tendo a impressão racional de que sofreria muito. Eu queria tentar.
Senti a tal coragem no sangue, no ar, na
pulsação do coração. Eu queria, eu podia, eu vou.
Eu fui.
Eu fui.
Estranho esta coisa de coragem, pois, ao mesmo tempo que te
move, parece que te cega. Ou será que quem acaba cegando é a vontade? Eu não sei. Só sei
que mergulhei fundo atrás de uma intenção verdadeira, de um sonho verdadeiro e
inteiro, mesmo que imperfeito, e não pensei em mais nada. Segui.
O que não previ foram os percalços. Ou previ, mas subestimei.
Não previ que me machucaria mesmo querendo o bem. Não previ que compreender fosse cada vez mais complicado e dolorido, e que às vezes tudo parece não ter fim. Não previ que, em algum momento, poderia ficar escuro, e eu sem saber o que fazer. Que poderia me faltar o ar. Eu não calculei a distância que teria que percorrer. Eu apenas queria muito seguir.
Não fui lógica. Não ponderei as dificuldades no caminho. Não previ dores, fraquezas, decepções. Eu apenas segui.
Foi inevitável. Um dia eu duvidei. Um dia eu senti medo. A
força havia diminuído consideravelmente. A alegria havia sido consumida aos
poucos, a cada percalço do caminho, a cada recarga do meu motor necessitado de vontade e certeza. De
repente, eu parei e comecei a questionar meu empenho e até a minha vontade.
Estava tudo muito quieto. Um silêncio absoluto e uterino.
Eu, dentro de mim. Escuro, o mesmo escuro do ventre, onde se sabe tudo sem
enxergar. Eu queria enxergar. Ou saber.
Só então lembrei de mim. Eu não havia olhado para mim desde o
início daquela jornada.
Era tanta vontade, tanto desejo, tanta força, tanta coragem... que eu não olhei para mim. E no mesmo instante em que me lembrei, alguma coisa doeu.
Era tanta vontade, tanto desejo, tanta força, tanta coragem... que eu não olhei para mim. E no mesmo instante em que me lembrei, alguma coisa doeu.
Eu ainda desejava
muito. Mas parecia impossível seguir. Agora, parada, olhando cada parte de mim,
eu não podia mais ignorar meus cortes e arranhões conquistados no caminho. E eu
estava fraca. Fraca para continuar. Decidida demais para voltar.
Pensei ter me superestimado. Pensei ter sido arrogante. Ou
apenas uma completa ignorante. Ignorante sobre mim mesma.
Mas eu quis tanto... Era tudo o que eu tanto queria... Um sonho que acreditava poder realizar... mas ainda tão fora do meu alcance. Longe de se comemorar.
Mas eu quis tanto... Era tudo o que eu tanto queria... Um sonho que acreditava poder realizar... mas ainda tão fora do meu alcance. Longe de se comemorar.
O que eu faço aqui sozinha no meio do caminho, entre o antigo frustrante e conhecido, e o novo almejado e duvidoso? Apenas silêncio ao meu redor. Nenhuma resposta.
Meu coração pesou. Ele precisava de paz. Minha alma cansada precisava de certeza. Não
havia mais energia para sacrifícios e compreensão infinita. Eu precisei parar.
Olhei para o caminho percorrido e vi gotas de sangue e suor.
Não havia sido fácil, apesar de eu fazer parecer fácil para os que olhavam e compartilhavam. Apesar de eu não desistir. Na estrada, eu havia perdido partes minhas, alegrias, sonhos que nutri e foram traídos, certezas que tinha e foram massacradas sem dó alguma, apenas para continuar e encarar a
realidade do caminho. E esta realidade, mesmo quando conquistada aos poucos,
não me fazia sorrir sempre. Era tortuosa e insegura, parecia me dar, e depois
me tirar algo, o tempo todo, sem aviso algum. Frustrante.
Vendo o que via, sentindo o que sentia, finalmente, me cansei.
Desisti de entender. Ou de decidir.
Flutuei no escuro, aconchegada pela minha decisão recém
encontrada de parar, e fechei meus olhos no breu. Quem era eu afinal? Por que
queria tanto tudo aquilo? Será que seria feliz com tanta dor para curar no caminho? E por que tinha dores que não conseguia curar? Valeria a pena seguir adiante, mesmo assim?
E minha alma transbordou em desespero.
Foi então que chorei. Chorei fininho, bem baixinho, sem ninguém escutar. Chorei uma canção em memória às minhas dores e minha coragem sem fim. Chorei pelas decepções que tive que enfrentar, cada palavra dura que ouvi sem me preparar, pela estrada que fora bem mais dura que pude imaginar. Chorei pelo meu coração aberto que tantas vezes sangrava, chorei pela maldade que espreitava, e muitas vezes pôde me alcançar. Havia ainda muita dor em mim. Era antiga, rançosa e falha. Não significava mais coisa alguma. Mas doía. E eu queria tanto avançar...
Foi então que chorei. Chorei fininho, bem baixinho, sem ninguém escutar. Chorei uma canção em memória às minhas dores e minha coragem sem fim. Chorei pelas decepções que tive que enfrentar, cada palavra dura que ouvi sem me preparar, pela estrada que fora bem mais dura que pude imaginar. Chorei pelo meu coração aberto que tantas vezes sangrava, chorei pela maldade que espreitava, e muitas vezes pôde me alcançar. Havia ainda muita dor em mim. Era antiga, rançosa e falha. Não significava mais coisa alguma. Mas doía. E eu queria tanto avançar...
Chorando, me acalmei. E sem perceber ao certo como, algo aconteceu.
Uma luz perfeita cortou o breu do mar sem fim, e chegou certeira ao meu coração. Algo doce e quente me invadiu aos poucos, e pude respirar calmamente, sem dor ou hesitação. Não havia palavra alguma, nem me deu explicações, mas me fez infinitamente bem.
Uma luz perfeita cortou o breu do mar sem fim, e chegou certeira ao meu coração. Algo doce e quente me invadiu aos poucos, e pude respirar calmamente, sem dor ou hesitação. Não havia palavra alguma, nem me deu explicações, mas me fez infinitamente bem.
Voltei a fechar
os olhos então, não mais por medo, mas por outra emoção; desejei mergulhar
ainda mais dentro de mim e sentir o que me acariciava; desejei me fechar em feto, em semente, voltar à essência de mim mesma, voltar a ter certeza, brilhando naquela luz.
Sentindo equilíbrio na novidade, identifiquei pensamentos brotando na minha mente, sem avisar.
"E se eu desistisse da coragem? E se eu desistisse da força? E se eu largasse meu corpo inerte nas ondas, se flutuasse sem esforço algum, e
me entregasse ao meu destino? E se eu parasse de lutar, de desbravar, de
buscar, de tentar alcançar, e apenas pedisse uma bênção merecida para minha ama cansada? "
Acreditei. E minhas
palavras começaram a ecoar...
“Das profundezas do mundo dos sonhos, do lugar perdido onde
a magia reina e que não consigo alcançar, da casa onde a beleza e a alegria são o ar
e a fogo da vida, do coração maior que conhece a intenção e o mérito de cada
pequeno coração... que a luz venha até mim.
Que o mundo dos milagres e da magia me encontre. Ele, que
flutua entre os outros mundos, dando e tirando, como a Justiça Maior ordena,
que me encontre nestas profundezas dos limites que alcancei. Sozinha, já não
posso mais.
Que ilumine meus olhos, que cure minhas feridas, que apague
minhas lembranças de dor, que liberte minha tristeza, que aqueça meu coração, e faça
renascer a minha alegria.
Venha até mim, luz do amor, já que não consigo mais, sozinha, seguir.”
Pedi com todo fervor. Eu seria atendida, pois eu acredito no Amor. E ele veio.
Trouxe raios azulados, perfeitos, iluminados e precisos.
Depois as cores, as estrelas, as luzes, as flores, a beleza sutil de tudo que não se pode tocar. Sem que eu dissesse mais nada, emergi, em um só pulsar. O sol brilhava tranqüilo, o vento me acariciava a face, jogando meus cabelos pelo mar. Eu flutuava, respirando o ar salgado com a maior doçura do mundo, e sentia vontade de dançar.
Uma energia quente e suave tocou minha mão e entrou na minha verdade. Eu me
transformei em pura eletricidade de luz. Meu coração disparou, meu sorriso se
abriu, e nada mais importava. Eu só conseguia sentir entusiasmo e a imagem que eu tanto aspirava voltou a permear a minha mente novamente em alegria.
"Eu vou conseguir. Sei que ainda falta bastante,
mas vou conseguir."
Não basta apenas tentar intensamente. É necessário mergulhar
sem ressalvas atrás de um sonho. A coragem inicial precisa ser forte e decisiva.
Mas em algum momento, não vai depender mais da sua força ou vontade. Em algum
momento, você encontrará seu limite. Nesta hora, não aceite seus pedidos de
desistência. Não volte. Não afunde.
Será preciso ter fé.
Entregar, pedir e acreditar. Invocar a luz que ainda estará escondida no seu ser. Ela sempre existe.
Será preciso aceitar a magia do impossível, e assisti-la acontecer através de você. Sem julgar.
Se não pode mais andar, peça que te levem. Mas siga
sempre, na bela roda da vida, mais uma vez. Sem parar. Entregar, pedir e acreditar. Invocar a luz que ainda estará escondida no seu ser. Ela sempre existe.
Será preciso aceitar a magia do impossível, e assisti-la acontecer através de você. Sem julgar.
Agora eu sei que posso novamente. Ainda não alcancei, ainda tenho dúvidas sobre o caminho que vou percorrer, mas a dor se foi. Não sei por quanto tempo. Até o próximo percalço.
Mas quanto valem os sonhos? Quanto valem os meus sonhos?
O bastante para voltar a seguir. Mais uma vez.