quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

As borboletas do novo ar


Feliz Ano Novo! Abençoado 2013!
O novo ar traz borboletas. Borboletas azuis, brancas, amarelas, ousadas e faceiras, pedindo para serem amadas e admiradas. Despretensiosas, convidam nossas próprias borboletas a sair do casulo dos sonhos e voar no céu. O novo mundo tem céu azul e limpo, mas um sol tão forte que ainda me cega...
Nunca senti isso antes. Depois de tanto tempo revivendo a roda da vida, entre dores e amores, é a primeira vez em milênios que não sei o que sentir. Ou fazer.
Há coisas belas no ar etéreo, o plano sutil se desmancha em promessas de alegria e realizações. A natureza se refaz em brilho, novas estruturas de energia se deixam admirar. A Terra resplandece, com uma força e confiança que nunca pude assistir. Não que me lembre.
Dá quase para tocar. Mas ainda não consegui.  É como uma vitrine ainda inatingível, um sonho na tela do cinema. “É para mim? Vou poder sentir?”
Sim. É para todos que fizeram parte da história, mesmo sem perceber. O ar transformado é a bênção dos loucos, dos insanos crentes no amor... Mesmo para aqueles que ainda não conseguem senti-lo totalmente.
Fechando os olhos em silêncio, peço com vontade e fé para entender por que. Onde está a trava que não deixa libertar o que voa através da alma em alegria? Será que ainda é dor?
Sempre existiu o culto da dor e do medo, o medo de sentir dor, antigos ceifadores de sonhos e sorrisos, vilões da alegria e vida. Isso eu conheço muito bem. Será que é dor velha, que não merece mais existir? Simplesmente medo infundado, já antiquado, de algo que não existe mais, apenas dentro de mim? Será que ainda não saí da ilusão?
No meu caso, o desconforto se instalou no elemento ar invadido pela água sempre descontrolada do meu ser. Emoções invadindo os pensamentos. Minha respiração tem ficado difícil, tive algumas crises de sinusite, e até meu plexo revirou nas horas críticas. Pura dificuldade em me equilibrar no novo, enquanto enxergo o velho no plano físico ao redor de mim. O que será que sinto?
“Não vamos perder mais nada. Já perdemos tudo para estarmos aqui. Este novo mundo criado ainda invisível e sutil foi conquistado e não dado, e por isso não pode ser levado nunca mais, ele só precisa se materializar através de cada um que acredita e se liberta na sua verdade...”
Alívio na bela voz que me sussurra. “...não pode ser levado nunca mais...”, “...se liberta na sua verdade...”
Perdas. Cansei de perdas. Cansei de decepções. Cansei de frustrações. Cansei de sacrifícios, de lamentos e solidão. Cansei de tristeza sem fim. Não quero mais nada disso.
Cansei de injustiças, de traições, de mentiras e falta de amor. Cansei de acreditar, de investir, de sonhar, de ajudar sempre, de dar sem pedir...e cair. Cansei do modo egocêntrico que algumas almas simplesmente tiram tudo de outras, apenas porque acham que merecem. Cansei de ver um esmagar o outro, justificando tudo com desejos e medos pessoais, desprezando a dor alheia. Cansei muito.
Respirando bem fundo na alma, me olhando de dentro para fora, dando vazão aos meus sentimentos mais escondidos – mas não menos fortes por isso, acho que entendi finalmente. A voz me clareou.
Cheguei à conclusão de que estou é cansada mesmo. Cansada das últimas batalhas, das últimas conversas, das últimas injustiças, traições e decepções. Cansada de esperar o que não veio até o final. E não vem mais. Apenas isso.
Cheguei à conclusão de que cruzei a linha de chegada em frangalhos. Terminei a prova, cumpri minha missão, mas preciso descansar. Foi desgastante demais.
Não que não esteja feliz. Estou, e muito. Como todo guerreiro que vence a batalha, comemorei com entusiasmo a chegada e a conquista. Amo cada nova fagulha de luz que brota nas auroras dos dias, cada centelha de vida desperta nestes últimos meses malucos de trabalho. Estou muito, muito satisfeita. Mas isso não apaga as cicatrizes e o sangue que se perdeu.
Vi na aura da Terra que muitos estão como eu. Não é falta de alegria ou de gratidão pelo que se criou. Não é que não se sente que tudo está a um passo de começar a ter vida. É puro cansaço mesmo. Precisamos de descanso.
Pedi então às entidades da Luz e Amor que me dêem este descanso. Um tempo para que minha energia se recobre, se adapte, se molde e se conecte realmente à esta aura dourada que a Terra agora brilha. Um tempo para que eu faça minhas próprias borboletas voarem. 
Parece que ainda é forte demais para mim, que ainda não as deixei voar, mas sei que é temporário.
Alguns já saltitam e dançam por aí. Já liberaram o cansaço e a dor, liberaram seus sonhos-borboletas e já estão conectados com tudo que é novo, fazendo a diferença acontecer. Abençoados sejam! Que me inspirem!
Como muitos amigos em espírito que se dedicam à iluminação de tudo que é mais oculto, clareando as sombras ao seu redor, eu sempre fui morosa mesmo, limpando os últimos cacos que ficam. Inanna, a deusa que desceu os sete portais do submundo para abraçar os que lá sofriam por qualquer motivo, agora volta lentamente,  um a um, recolhendo em cada etapa um pedaço do que deixou para submergir. 
Depois, com calma, acho que vou tratar cada borboleta de um jeito único e especial, como se fossem pérolas ou cristais, saindo uma a uma, com calma e carinho. Eu sou assim. Eu gosto assim. 
Cada um é de um jeito, cada um escreve sua caminhada da vida com uma poesia diferente, e somos todos belos igualmente. Que assim seja.

Para quem é parecido comigo, saiba que aos poucos recuperaremos nossas belas vestes de luz. A cada dia, veremos mais borboletas da vida nos convidando para algo novo e belo, trazendo nossas próprias borboletas para a matéria e seremos mais aptos a libertá-las com vontade e determinação. A cada novo amanhecer estaremos mais leves e confiantes novamente.  
Para os outros que já voam, continuem a saltitar! Afinal, a natureza não se apressa, nem atrasa. Ela tem seu próprio tempo. Quem somos nós para contrariar…

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