segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Aniversário e Samhain

No escuro de mim, fui fazer aniversário.
Quase Lua Nova em Escorpião... quer mais "escuro de mim" que isso?

Samhain. Festa Celta. Ano Novo. Culto aos Velhos. 

Perfeito.
Aliás, mais que perfeito... mágico.
Sabe o dia em que você cura? Não sabe? Então vai saber... é para estes dias que vivemos. São vários na vida, e meu aniversário foi um deles para mim.

A roda era perfeita. Pessoas novas, velhas, alegres, tristes, sábias... Sábias todas por terem decidido estar ali. Todos perfeitamente seguros.
Quando o Cláudio Crow começou a falar - um dos nossos anfitriões e puro mago -  os Homens-árvore chegaram. Eram enormes, lindos, como que saídos dos livros que lemos, mas eu sei que são inspirados na vida real que enxergo desde sempre. Eu sabia que existiam, mas nunca havia visto os Homens-árvore nesta vida. E lá estavam, reverenciando o Cláudio com profundo amor. 

Um deles me olhou e senti uma alegria imensa. "Somos todos árvores", nosso condutor disse naquele momento, e eu juro que senti aquele ser de mais de cinco metros de altura sorrir, senti sim.

Bom, depois foram os seres menores - duendes, fadas, ondinas... Rodopiavam ao nosso redor, em uma festa incrível, e eu pensava... "queria que todos vissem isso".. mas eles estavam vendo, de alguma forma.

Quando a Patrícia Fox - nossa anfitriã bruxa - acendeu o fogo, as salamandras a reverenciaram, e foi lindo. O fogo apenas obedece seres muito fortes. É fácil domar água, a terra... o ar requer um pouco mais de concentração. Mas o fogo requer força, e ela tem, definitivamente. Ver esta integração foi mágico também.

Foi mergulho na alma. Colhemos na natureza pedaços de nós mesmos, acolhemos tudo ao peito, e foi preciso descartar... Preciso dizer...doeu, mas descartei o que compreendi que era tempo... todos descartaram, e a roda se refez mais leve.

Na intuição da Mestra, quadrantes foram formados, e eu pude compartilhar o fogo em um deles... e distribuir... Senti um Amor enorme ali na dança das salamandras, nos abraçando e nos aceitando como irmãos, invocando nosso Fogo Interno da vida.
Aceitamos o convite, abrimos corações, desnudamos um pedacinho da alma em roda, lemos cartas circulares como a vida... e estávamos prontos para o que fosse, já que os "irlandeses são os reis do improviso" (saber disso alivia por dentro, grata Cláudio!).

Na Roda dos antepassados, a magia realmente teve seu ápice da noite (ou do dia). Eu, que sou Perséfone de nascença, fiquei maravilhada...

Um portal imenso foi aberto para cima e para baixo, margeado por uma força guardiã descomunal... Éramos quantos? Vinte? Mas a energia canalizada era imensa, surpreendente! Portais se abriram, forças aceitas, almas liberadas... 

Em segundos estávamos em uma festa. Avós, Avós de avós, avozinhos... entravam na roda, circulavam a energia, tocavam seus entes queridos com calma e respeito.
Luzes eram liberadas do centro, voando como vagalumes pelos portais abertos. Com certeza iam atrás dos seus destinos - ancestrais que não poderiam estar presentes. Seguiam em várias direções, ao céu e à terra... pois todos mereciam Luz naquele momento, independente de onde estavam e como viviam sua Verdade agora.

"Bênção Vó!". Todos abençoados!. 
A cada vó que passava sua sabedoria, um pouco da cura acontecia.

Minha cura foi especial.
Eu curei algo que não sabia que tinha: a dor do não reconhecimento.
Eu sou neta de avô motorista e avó dona-de-casa-costureira, que me deram um pai economista. Neta de uma vó curandeira que deixou a faculdade de medicina para casar (não poderia ter as duas coisas! Absurdo...) e um avô comerciante que a levou para seus infinitos negócios vida afora, e que me deram uma mãe professora. Não tem arte na minha família, nem fantasia, nem dança... família prática. Vida prática que tentou abafar minha avó curandeira, mas ela sempre surgia com lendas, ervas e plantinhas atrás do balcão dos negócios, ou no pagamento dos funcionários. Ela era minha inspiração e porto-seguro de alma.
Mas a vida me fez prática porque sim, me fez dor porque precisou, me fez mudança porque mereci... mas antes de eu me encontrar de verdade, minha avó se foi.
Minutos após de eu saber que iria ganhar mais uma filha, ela se foi, fechando a Roda da Vida de morte e renascimento - a Virgem chegava ao meu ventre de Mãe, e a Anciã se despedia... O mistério foi feito por ela em mim, e por mim nela, naquele dia de dor e alegria - pura dualidade humana.

E agora, ver esta avó em auge de sua Beleza, e ouvi-la dizer que se orgulhava de mim olhando com tanto amor e força nos meus olhos, em meio àquela roda espetacular que se formava, me fez pensar pela primeira vez que nunca havia escutado isso na vida : "eu me orgulho da pessoa que você se tornou"... nunca. E nunca percebi que isso fazia falta.
Chorei. Muito mesmo. Choro contido por uma vida, lavando algumas dores desconhecidas... e ao mesmo tempo eu via avós abraçando, afagando, rindo, chorando baixinho de saudade...
Como não ser grata à magia da vida em um momento deste? Como não agradecer às almas que o manifestaram com tanto amor e vontade?
E ao final todas se uniram. Arrepiei, exultei e rezei. Poucos sabem do que é capaz tantas avós rezando uma Ave-Maria no Brasil pedindo pelo mundo! Sem palavras... Elas eram todas a Deusa. E nós éramos o broto novo, renovado, pronto para alçar novos voos... Eterna e imensa alegria e frescor!

Comemos e partilhamos a fartura da Mãe. Dançamos e agradecemos a beleza e alegria da Vida em cor e festa... todos aqueles ancestrais reunidos dançando, se entrelaçando aos vivos em corpo, formavam o belo entrelaçado Celta que une o mistério de tudo, fazendo arte da vida. Era tudo Um Só, e éramos todos o que somos - Luz.
A voz do Cláudio cantando o que ele canta há milênios lindamente, a dança da Patrícia que no momento auge foi segurada pelos braços de seu pai até o final da música...
Se magia é outra coisa, prefiro não saber.

Ao som do tambor, eu renovei meus votos com a Vida. Ao som do tambor, em tribo e em certeza, vivi mais um capítulo da roda interminável de ser humano na Terra. Minha coruja voou ao meu redor, e eu me acalmei, sabendo que tudo estaria ali quando precisasse ver. No escuro, que é meu dom.
Aos poucos a natureza foi se encaixando na paisagem, as auras se guardando para si mesmas, assim como recolhíamos as velas, toalhas, bolsas, alimentos e instrumentos. 

Da mesma forma que criamos, destruímos, para criar outras coisas. 

Bom... criar e destruir. Lembra que colhemos para descartar? Pois bem... No momento do descarte, olhei para uma pinha na minha mão, toda negra, evidentemente sobrevivente de uma fogueira mais velha. Eu a colhi com o respeito de uma corajosa e destemida guerreira sacrificada, queimada e desprezada, mas ainda em pé. Foi ela que teve que ir, foi ela que descartei na roda. Não preciso mais dela. Foi difícil, mas libertei a bruxa sofrida de dentro de mim. Deixei-a ir. Aos poucos, ela foi sendo levada pelo vento, lentamente, e no escuro a perdi. Ela precisava descansar.

Se precisamos de um motivo para existir, acho que viver algo assim deve ser um que valha a pena.

Samhain. Festa Celta. Ano Novo. Culto aos Velhos. 
Perfeito. Aliás, mais que perfeito... mágico.
Sabe o dia em que você cura? Não sabe? Então procure saber... é para estes dias que vivemos. São vários na vida. Este aniversário foi um deles para mim, e desejo um igual ou melhor a você!
Recebo e retorno em Luz. É o que mais amo fazer.



domingo, 24 de julho de 2016

Buscas... e encontros


Buscar, buscar, buscar...

Todos buscam algo por este planeta, isto é fato, mesmo que não saibamos direito o quê. E a caminhada é tão exaustiva às vezes, que, quando encontramos mais um pedaço do quebra-cabeça em algum ponto, faz um bem danado... ah, faz.
Ontem passei por um momento mágico.
Daqueles que vêm embalados em lembranças e memórias e dizem com clareza e carinho o que precisamos confirmar dentro da alma sobre nós mesmos. Fez bem. Foi um encontro.
Mas para compartilhar, preciso voltar nos anos e nas ideias.

Eu nunca entendi uma "busca espiritual". A ideia de buscar espiritualidade era como buscar algo fora que tinha certeza já estar dentro de mim, não fazia sentido algum. Sempre foi assim..

Fui criada numa família muito eclética e "buscadora" espiritualmente, tinha contato com várias religiões e culturas, e estas "conversas" na minha casa, durante a infância e adolescência eram diárias.
Leituras, rodas, discussões. Sou muito grata pela oferta de informações que isso me proporcionou, mas sinceramente, eu não me atraía muito por nada realmente naquela época, a não ser alguns fatos interessantes sobre a vida de algumas pessoas consideradas "Mestres" de alguma forma, e detalhes sobre suas jornadas na Terra.
O que me chamava atenção em tudo aquilo não eram os sonhos, os milagres, as visões, as intuições que deslumbravam todos... isso para mim parecia muito natural, uma conexão com o Sagrado, a Essência que todos temos. As tais teorias sobre Deus e o Universo, que tanto prendiam as pessoas, nunca me foram tão interessantes. 
Meu interesse era exatamente na parte que não focavam tanto... em suas vidas pessoais, escolhas e vivências, em como lidavam com cada passo de suas vidas terrenas apesar dos fatos sagrados que aconteciam pelo caminho. 
Através das vidas destas pessoas consideradas especiais, todos procuravam explicar Deus de tantas maneiras, desesperadamente, mas afinal, em todas as caminhadas, o tal "Deus" estava sempre dentro... então como encontrá-lo em outra pessoa? 
Nem preciso dizer o quanto isso me trouxe problemas, o quanto fui chamada de "rebelde", "arrogante"ou "desrespeitosa" em muitas conversas... Hoje rio muito disso tudo...

E dentro destes caminhos que a vida nos traz, ontem fui à uma experiência muito interessante onde buscadores se encontravam para buscar mais um pedaço de si mesmos, e cada um se voltava para dentro, na tentativa de sair do ego e alcançar a essência de tudo.
Ali, na egrégora de Luz formada, chamei a mim mesma. Fiquei calma pensando em minha jornada, meus próprios questionamentos, e lembrei docemente do momento em que encontrei o "algo" que colocou o Sagrado em palavras, finalmente, para mim.
Acho que todos nós já tivemos, ou ainda teremos este momento mágico. É realmente libertador.

Entre todos os que cantavam e meditavam, lembrei de quando nada que me era oferecido como leitura sagrada, ou filosofia oculta, encontrava eco dentro de mim, e eu nunca havia me importado com isso de verdade.
Não tinha vontade de me aprofundar em nada, em linha alguma, e não o fiz. Estava tão em Paz no meu "nada" pessoal que tentavam tanto preencher com "algo maior", e só procurava uma forma de traduzir isso para ser compreendida.
Eu tinha dezesseis anos., cursava o terceiro ano colegial. No meio da aula de literatura, escutei algo que me libertou. Era um poema de Fernando Pessoa, no heterônimo de Alberto Caeiro.
Maravilhoso como sempre, ele se tornou desde então meu poeta favorito até hoje.
Eu estudava em um colégio de freiras, e minha professora de literatura era uma religiosa. Logicamente ela descreveu o poema como "ateu" e passou para a próxima lição rapidamente... Mas para mim, foi a coisa mais natural e verdadeira que eu havia lido na minha vida.

Eu não consegui mais prestar atenção no resto das aulas, e as palavras de Caeiro ficavam entoando dentro de mim, retumbando todo o meu Ser. Quando eu escutei aquilo, eu ascendi minha visão de mim mesma , uma etapa foi concluída, e parecia que tudo fazia sentido.
Até hoje ele me parece um mantra da verdade, e lágrimas me vem quando o leio... Minha parte preferida:

"Mas se Deus é as flores e as árvores 
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele, 
Então acredito nele a toda a hora, 
E a minha vida é toda uma oração e uma missa, 
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. 
Mas se Deus é as árvores e as flores 
E os montes e o luar e o sol, 
Para que lhe chamo eu Deus? 
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; 
Porque, se ele se fez, para eu o ver, 
Sol e luar e flores e árvores e montes, 
Se ele me aparece como sendo árvores e montes 
E luar e sol e flores, 
É que ele quer que eu o conheça 
Como árvores e montes e flores e luar e sol."

Fui buscar todos os versos então... E ao longo deles, Fernando Pessoa definia  Deus e Cristo no seu "Guardador de Rebanhos" de uma forma totalmente inusitada e fora dos padrões, trazendo uma visão alternativa e natural da divindade, e por isso foi criticado pela Igreja e rechaçado pelo público tradicional, limitado e preconceituoso da época.
Para mim foi como cantar em versos a verdade que vivia em mantra no meu ser.
Simples assim, minha tal "busca espiritual" terminou aí, com dezesseis anos, não através de um filósofo, religioso ou místico, mas através de um poeta.

Acredito hoje que seja porque eu sempre havia visto a energia pura da criação em todas as coisas, e me parecia óbvio que o que procuravam sempre esteve li, dentro, fora e ao redor.
Teorias sobre o início e fim de tudo nunca me seduziram, porque a vida inteira é uma prece.
 O mesmo mistério que cria a vida a partir de uma semente ou de um ovo, cria uma galáxia inteira... para mim sempre foi natural e claro. Vida gera vida, em ciclos ininterruptos, e esta energia vibrante que mantém tudo em ordem, fluindo, simplesmente porque é íntegra e pura, porque vai na direção da constância e da harmonia, e está em cada átomo... chamam de Deus. 
Eu chamo esta energia que pulsa em tudo, de Vida. E a Vida com harmonia eu chamo de Amor... ou de Deus. Como quiser.
Vida em desarmonia chamo de Medo. Ou dor.
Pronto. Esta é minha religião. 

A busca findou aos dezesseis, então, você pode me perguntar? Não. 
Depois de muitos anos hoje percebi que minha busca nesta vida nunca foi pela divindade. A Divindade já nasceu comigo, já a encontrei em outras vidas, não há o que buscar dela.
Minha busca que se iniciou aos dezesseis anos foi pela humanidade.
Para mim, ser humano é muito mais difícil que ser Deus. 

Ser Sagrado é fluido, harmonioso. Nossa parte sagrada é amorosa e transparente dentro de nós. Perfeita. É apenas olhar o fluxo, a natureza, e aceitar, e seguir... e você é Divino. Você respeita, você acolhe, você ama, e você é Sagrado. Simples assim... como sempre digo - a Pura Roda da Vida. 
A grande dificuldade é ser matéria. A grande dificuldade é a parte visível e questionável. São as necessidades, as dores, as perdas, os medos e conflitos. Isso é a parte humana que carrega. 

Por isso os Mestres sempre dizem que somos guerreiros. Encontrar a divindade na matéria é um desafio dos mais altos em sacrifício e coragem.
Minha escolha foi mergulhar  nas relações humanas, então... na sombra pessoal e planetária, nos medos e nas dores, para compreender o ser humano, porque Deus eu já sentia.
Mas não pela mente. A mente é insegura e medrosa, limitada ao que pode analisar e julgar. Nunca me pareceu viável entender a humanidade pela mente. A mente liga o humano à matéria, e isso é algo já bem conhecido e compreendido. Meus mestres sempre foram os poetas. Ando através deles e seus cantos sobre a dor e o Amor humanos, e sua canção é no coração e na alma.

A ligação entre humanidade e divindade está no coração. Está nos sentimentos, nas trocas, nas marcas que deixamos no caminho, dentro de nós e dos outros. Nas criações que geramos pela nossa existências, materiais, emocionais e mentais.  
Este caminho não requer celibato, mantras ou grandes carências materiais... ao contrário. É nas relações, nas conversas, nas trocas, no contato com o prazer, com a matéria e com o corpo que o real humano aparece. É aí que ele mora.
É saber tocar o outro e a matéria, e amá-los por escolha, e não por necessidade.
Não se conhece o Sagrado neste planeta se afastando do humano. Os dois precisam se encontrar dentro de cada coração, e este encontro é único.
Nunca o caminho é igual para dois seres, assim como nenhuma árvore é igual a outra, mesmo irmãs de sementes. Tudo ao redor nos molda, e somos particularmente especiais por isso.
Correr o mundo para encontrar Deus e chegar a conclusão de que se é Deus, e só então encontrar o Humano dentro do Deus que se é,  não me parece muito natural, mas é um caminho mental, eu compreendo. e hoje vejo maravilhas que foram alcançadas através dele. Afinal, somos humanos, criativos, temos várias maneiras de fazer qualquer coisa.


Mas para mim, precisei correr pelas pessoas para conhecer o humano que carrega o Deus que já me habitava.
Trazer a divindade já conhecida para o humano desconhecido foi minha busca. Para mim a única coisa certa sempre foi a divindade. O humano sempre foi o mar de dúvidas e sombras a desvendar... não Deus. Aliás, ainda é.
Todos os dias quando estudo, medito, busco e questiono meus Mestres espirituais internos, minha meta é a mesma... fazer o sagrado fluir pelos corpos e mentes de irmãos cansados e esquecidos de quem são.
Os caminhos são os mais diversos, mas ainda bem que existem.
Ontem eu compreendi porque nunca precisei de um guru, mas precisei sempre de amigos...
Não preciso de alguém que seja ponte com minha divindade. Eu a toco desde que nasci. Eu preciso de irmãos e irmãs em busca uníssona por uma humanidade mais sagrada dentro de si mesmos; preciso que sejam ponte para a minha própria humanidade, cantando nossas descobertas e vitórias e encontrando paz em sermos divinos, seja onde estivermos, e ainda assim tocando a matéria.
Minha busca foi minha profissão. Cada pessoa que atendi até hoje, cada ser que compartilhei energia, cada irmã de roda que toquei, foi em parte, um guru, um Mestre para mim. Aprendi um pouco de humanidade em cada uma, e com isso aprendi a respeitar a dor, o medo, a raiva, a mágoa, a dúvida, o sacrifício humano. Aprendi ter compaixão, a ter paciência e respeito pela Sombra e com isso estou mais perto de uni-la à Luz a cada dia.
Só podemos amar quem conhecemos... então me escancarei para o outro. Hoje amo mais ser humana porque amo a humanidade e suas fraquezas e dificuldades. Quando todos sentirem o outro como a si mesmos, e aceitarem o que sentem, mesmo sem compreender, encontraremos a paz. 

Aprendi que somos tão profundos e multifacetados, que julgamentos sobre nós e o outro são impossíveis de serem feitos com justiça neste plano material. Que é por isso que erramos tanto, porque tudo nos leva à ilusão em segundos... mas precisamos nos iludir e desiludir para aprender a ser humanos divinamente. É necessário e está tudo bem em errar, compreender, aceitar e transformar. Então, pulei esta parte de lamentar e culpar, e fui direto para o aceitar e libertar, seja como for.
Hoje acho que estes dois caminhos para a Unidade - sair do humano em busca do divino, ou do divino em busca do humano - são equivalentes e chegam ao mesmo lugar. 
Buscar pelo Pai, ou ser levada pela Mãe... Amar primeiro e depois compreender, compreender primeiro e depois amar... 
Tanto faz.

Qual é o seu, é o que cada coração deve se perguntar. O importante é estar caminhando sempre.
Minha aura se iluminou mais um tiquinho, e fiquei grata por ser quem sou e às minhas irmãs de caminhada que me levaram a mais este passo.
E a todos meus poetas inspiradores do Caminho, tão lindos, profundos e subjetivos, incluindo Yeshua e Madalena, meus cantadores do Amor na Terra...
Eu sou canal de Amor nos corações humanos. É o meu melhor.
Gratidão. 


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Meu Amor ao planetinha Azul

Eu corria pelas estradas da Via Láctea.

Corria com meu vestido branco leve, meus cabelos negros ao vento, pisando nas estrelas como se fossem pedras mágicas que levavam ao caminho da Luz.
Era imensamente prazeroso. O Universo aos meus pés.. e nas minhas mãos, no meu olhar, no meu coração.

Afinal, o que é existir, senão caminhar no Universo livremente, escolhendo direções, experiências, companhias, verdades, transformações, conquistas?

Em um momento, porém, um ponto azul me chamou atenção. O que era aquele lugar?
Algo misterioso me atraiu imediatamente.. e foi para lá que fui, espontaneamente.



O que havia ali de tão especial para me encantar tanto? 
Foi o que descobri com os anos, séculos e milênios depois que aterrizei no seu solo vivo. Absorvendo, compreendendo, desvendando, crescendo.

Ali, em meio a tantos desafios, a tanta diversidade de energia e tantas formas de Amor, em meio ao que eu nunca havia visto e nem sentido nos outros lugares e estrelas que havia tocado, eu me libertei. 

Libertei o ser inexperiente e imaturo que havia em mim, e deixei o meu Mestre de Luz olhar pela primeira vez um nascer do Sol.
O Sol nascia naquele lugar azul em cada Era que surgia, depois que a anterior se despedia.
O Sol trazia mais desafios a cada etapa, junto com memórias cansadas, alguns pesos de bagagem das etapas anteriores, mas nascia. Sempre.
Com o tempo - e as Eras - tudo se tornou imensamente pesado, entretanto. A estrada havia ficado estranha. Havia memórias em todas as partes de mim, eu já não corria como antes, mas andava lentamente, lamentando perdas, dores e medos.
A corrida pelo planeta Azul havia chegado a um ponto insustentável e algo precisava acontecer.

Os aprendizados se confundiam com as perdas, e se tornava impossível seguir com segurança. Os seres se dividiam em bons e maus, livres e presos, belos e feios, grande e pequenos, em uma confusa ilusão ilimitada. Nada era visto como realmente era. Nada. Os véus de ilusão causados pelas dores eram inúmeros, e eu me perdia de quem amava... Doeu. Doeu muito.

As saudades dentro do meu peito a cada nova vida eram maiores e mais difíceis de vivenciar.

Onde estavam meu queridos, meus amores, meus sorrisos, minha paz? Haviam partido. Pelo menos para mim.
As confusas estradas do planeta me jogavam mais e mais aos seres com quem eu mantinha relações complicadas, doloridas, insustentáveis no Amor. Seguir se tornava tão cansativo que em muitas investidas, desisti.

Mas nada parava, os ciclos seguiam ininterruptos, e eu voltava exatamente ao ponto de onde tinha partido. Simples assim.
Voltas, ciclos, lágrimas e soluços. Já não havia muita coisa a comemorar, e eu quase nada me lembrava do ser esvoaçante que percorria a galáxia a procura de emoções e alegria, ou aquele que havia chegado tão cheio de vontade de aprender. Eu era pequena e triste.

Mas ali era o lugar onde o Sol sempre nascia... e um dia ele nasceu novamente. Nasceu com um poder renovado e intenso, muito mais forte do que havia sentido.
Desta vez ele renovou as energias do planetinha azul, liberou as energias confusas, causou limpezas e especialmente... despertou as magias esquecidas.

Foi um dia qualquer. Eu parei e senti. Tudo estava lá novamente. O motivo que me trouxe, as experiências irresistíveis, a beleza ímpar. O planeta estava sendo curado. Eu precisava participar! Mas estava tão pesada... tão dolorida, tão só...

Não importou nada disso. O planeta cantou seu mantra e me chamou. Olhou para meu coração e disse que havia Amor dentro dele. E eu fui.

Meus velhos pedaços foram se libertando com muita dor. Rasgando velhas verdades que já haviam se enraizado em mim, e sagrando antigos padrões que precisavam ir. Não desisti - a beleza do planetinha azul valia a pena e minha beleza também. Havia ali um encanto especial que me dizia que eu mesma era capaz de me reinventar se continuasse onde estava. E seria inesquecível.

Fui. Voltei. Fui novamente.
Foram rodas e círculos de vida, a cada um, um novo passo a seguir na estrada. Houve vezes que chorei. Outras quase desisti. Mas desta vez, a cada dor um pedaço velho se ia, e ficava mais fácil seguir.
Até que um dia... todas as estrelas cantaram.
Foi um mantra magnífico de todos os lugares proclamando que o planetinha estava pronto. E eu também.

Neste momento toda a minha ansiedade se acalmou. Meu coração ficou manso, e minha mente eternizou o vazio. Meu espírito de Luz assumiu o controle, e tudo que senti foi fluidez... Eu fluí.
Vi os tempos, as eras, as pessoas. Vi meus erros, acertos, e os dos outros. Não julguei mais, não havia mais porque. Estava tudo certo.
Está tudo certo.

Hoje eu flutuo nestas ondas novas. A saudade das estrelas já se acalmou dentro de mim, pois minha maior prioridade é completar o que vim buscar por aqui.
Meu coração encontra meus antigos iguais aos poucos, se liberta com gratidão dos diferentes, e a solidão quase se curou completamente.
O planetinha Azul cresceu, se torna uma estrela de Luz consciente e próspera a cada dia.
Eu espero e participo. Agora entendo o meu lugar.

Até que uma noite destas me lembrei daquele primeiro momento, quando caminhava nas estrelas e fui incrivelmente atraída para cá. Vi exatamente o que meu ser quis encontrar.
O planetinha Azul me trazia esperança. Era uma incógnita, uma história em branco a ser escrita. Foi isso que vim buscar. A esperança do novo, a eterna chance de se reinventar.
O antes planetinha azul brilhava oferecendo novas e inéditas sensações e autoconhecimento inimaginável em qualquer outro lugar da galáxia. E foi exatamente isso que proporcionou.

Então aqui, sentada em seu colo, abraçando seu solo sagrado, embebida em sua luz, eu agradeço.
Agradeço e permaneço para completar esta aventura.
Outras virão. E nunca mais serei a mesma depois de pisar neste chão tão plural...
Nunca mais serei a mesma, porque hoje sou filha dele, além de filha de quem um dia me criou.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Renascendo, mais uma vez


Quando será a busca se finda?
Quando será a Paz se instala?
No momento que a dor já doeu tanto que amorteceu? 
No momento que a certeza já não existe mais? 
No momento que a vontade já não acha o rumo?
No momento que a Luz se perde e os caminhos se tornam todos probabilidades errantes? 
Ou será quando tudo isso já passou e o silêncio se instala, sem muitas explicações?


Aqui estamos nós então. O silêncio ensurdece e ecoa na alma.
Perdas deixaram cicatrizes profundas que fazem parte do caminho e devem ficar para lembrar do que foi. O coração - este herói, vamos admitir - continua batendo, mesmo sem saber porquê ou para quê. E a alma...esta está voando, olhando tudo, assimilando, meditando, tentando compreender. É a única sã, acredito, a única que pode resolver afinal.

Foram milênios de muitos aprendizados. Milênios de erros e acertos se intercalando e se complicando a cada nova investida de vida. Milênios. Estou cansada deles, confesso. Não arrependida, mas cansada.

Sinto falta de pessoas que não tenho mais como tocar, e que tocavam profundamente meu coração. Sinto falta de mim quando estava com elas... mas elas se foram , eu fiquei. Isso significa algo.
Significa que no final estamos realmente todos sós.
Não há nada no outro que possa nos curar definitivamente. Ele serve de espelho, de amparo, de estopim... mas não de cura. A cura é sempre interna.

Para se curar, foi necessário estar só. A solidão foi o único passaporte para a estrada que vai para dentro. Para todos nós. E nós fomos.

Alguns conscientes, outros nem tanto, mas mergulhamos, caímos, sofremos vendo o mal que instalamos dentro de nós mesmos, como fomos maus com nossa alma. Tivemos pena dela, depois compaixão, depois compreensão e finalmente...gratidão. Gratidão por tudo que ela nos trouxe, pela força doce que carrega, pelo carinho e paciência com o resto de nós não tão puro, nem tão real.

A Alma acendeu uma Luz por dentro e deixou tudo à mostra. Chocou para quem viu. Mas não teve saída, uma vez visto, nunca mais esquecido. Mas tanta beleza foi revelada no processo...
E foi apenas uma vida! Uma!

Morremos e renascemos tantas vezes nesta vida que chego a pensar ser insanidade...
E agora? Está pronto para deixar de fazer isso? Está pronto para deixar de morrer, sofrer, tentar, culpar, doer, julgar, esperar, curar? Está pronto para não mais ter o que curar?

Não há mais cura, pois a doença se foi. Mesmo porque ela nunca realmente existiu, já que ela sempre se chamou Ilusão. Tinha cara de medo, raiva, dor, solidão, angústia, mágoa, tristeza, mas era na verdade a Ilusão nos separando de nós mesmos.
Apenas Ilusão? Sim. Você não sofre pelo outro, sofre por você, não é culpa de ninguém, apenas sua, não está sozinho, você é simplesmente completo e suficiente. Essa é a cura, e ela já chegou e chama-se Verdade.

O que fazer então, depois da cura, depois da verdade? Como navegar no mar da realidade com os vícios que a Ilusão deixou?
Reaprendendo.
É muito estranho, pois a primeira impressão é que os antigos passos certos possam ajudar. Dificilmente vão. Eram feitos para aquele momento, e não para este. Este momento é novo e especial. Totalmente novo para ser descoberto e vivenciado a cada pedaço, cada sabor e cada desafio de uma nova maneira.
Não há solução para o Agora no passado. É tudo completamente diferente. É preciso ser diferente. Até que ponto? Isso é com cada um. Cada um sabe o que não funciona mais. 

Eu, na minha estrada, ainda estou mudando. Já joguei muito fora, já transformei tudo que toquei, e ainda não consigo ver a Paz instalada completamente. Ainda não está tudo como desejo e sei que posso criar.
Há vícios ainda tentando me convencer de que o velho pode trazer o novo, sem eu perceber.... mas não pode.
E ainda os liberto, um a um, quando se mostram timidamente. Com Amor. Afinal, foram minha força um dia.
E uma imensa sala vazia começa a surgir...

Não vejo a hora da nova festa finalmente começar dentro dela. Preparo então a cada dia, com muito carinho, escolhendo muito bem as emoções, pensamentos, atitudes que a valorizem e a dignifiquem. Limpo os cantinhos, perfumo o ar e decoro as paredes com Luz...

Um dia pronta, e será breve, poderei compartilhar meu Eu novamente com Sabedoria. Sei que está próxima a Ressurreição...  E estão todos convidados para celebrar




!