sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Parar ou seguir...


A estrada continuava. Enorme, escura em alguns trechos, ensolarada em outros, sinuosa e enigmática. Eu sigo, assim, meio sem jeito, pé depois do outro, tentando não tropeçar.
Não que eu tenha medo, mas meu dedo esfolado, ou o raspão no joelho, me dizem que algumas surpresas não são fáceis de lidar. Mas sigo.
Em alguns momentos imagens belíssimas me presenteiam com perfume, cor, vida e esperança. Raios de sol por entre as frondosas árvores, lembrando como a luz chega onde quiser quando damos passagem. E quando chega, deixa visível um mundo a parte: folhas, flores, sementes, insetos coloridos no chão. Encanta.
Distraio meus pensamentos então, saio da paisagem real que me acolhe, e voo para meus receios e dores, que inevitavelmente insistem em chegar. Rapidamente uma nuvem cobre a Luz. Não vejo mais nada -  nem insetos, cores ou mesmo os perfumes, que parecem se perder. O mesmo caminho maravilhoso e tranqüilo se torna denso, profundo, duvidoso e desafiador.
Respiro. Olho para todos os lados, e a penumbra só aumenta. Quanto mais penso no que ela pode engolir ela se adianta e me dribla. Paraliso. Estou no breu.
A estrada. Eu e ela. Não há mais nada. Voltar não me parece lógico, pois, se parti, é porque não quis ficar. Seguir me parece perigoso demais sem enxergar meus próprios pés.
Neste momento penso que é exatamente esta dúvida que assola almas e almas nesta estrada sem fim. Como seguir, se já temos calos e cicatrizes? Como dar passos se a visão nos falha, nos abandona às vezes? Paramos. Simplesmente paramos e perdemos momentos e momentos questionando se deveríamos ter partido, quem deveríamos ter escutado, o que não deveríamos ter desejado. Paramos.
Pensamos várias vezes no passado, nas frases, nas conquistas. Lembramos de coisas que nem demos tempo suficiente para apreciar. Sentimos culpa. Entristecemos. E continuamos parados.
Congelamos. Adoecemos. Maldizemos nossas escolhas. Culpamos outras pessoas que poderiam ter servido de lanterna ou placa de direção. Ou quem nos serviu de âncora e nos afundou. E continuamos parados.
Em um dado momento, todavia, paramos de culpar, sofrer, esbravejar ou se perder, e começamos a pedir. Olhamos para o céu e pensamos que, se a luz voltasse, poderíamos voltar a caminhar com segurança. Rezamos.
Rezamos com toda a fé que dispomos, e petrificamos nossos olhares no alto, esperando a tal bênção. Nada. A tal Luz não vem. Aí sentimos raiva, revolta. Ou mais culpa e mais tristeza. Afinal, de quem é a responsabilidade pelo breu eterno? Nossos erros ou o destino implacável e duro? Eu ou o outro? Ninguém responde.
Há gente que pára por aí, e nunca mais consegue seguir. Séculos de estagnação, o corpo dormente, mente paranóica, coração gelado. Estagnação. Inflexibilidade.
Um pavor percorreu minha coluna. Parar. Parar para sempre. Nunca mais sair, aprender, mudar, crescer, renovar. Somente doses e doses de eu mesma, para sempre, igual, rançosa, repetitiva e sem sabor. Mesmas frases, mesmos erros, mesmas desculpas, mesmas reclamações, mesmas explicações, mesmas atitudes, mesmos resultados. Desesperador.
Depois de alguns instantes de pavor nesta imagem, resolvi andar. Não se via nada, o escuro engolia a tudo, e eu não poderia ter certeza de passo algum. Poderia tropeçar. Poderia cair e me machucar. Poderia pisar em algo, até quebrar. Mas nada, nada me parecia pior que estagnar.
Fechei os olhos e lembrei da Luz. Passei minha mente por cada lembrança, cada detalhe que pude lembrar do que ela me proporcionara de beleza e frescor. Sorri, de peito tranqüilo. De alguma forma tudo aquilo ainda existia, em algum lugar. Era só acreditar e não pensar em mais nada.
Um passo. Dois. Dez. Surpreendi a mim mesma por continuar sem problemas. Fixava minha mente em tudo de mais belo que podia reunir em um só pensamento.
Foi então que senti uma brisa quente. Depois um canto suave. Abri os olhos devagar.
Estava tudo ali. Perfeito. As cores, as flores, os insetos, os raios de luz. Era exatamente o mesmo lugar que caminhei no breu. E era perfeito. Olhei para a Luz delicada, banhando cada folha, iluminando minha pele, e sorri.

Não importa se estamos bem ou tristes, fortes ou fracos, certos ou duvidosos. Tudo o que precisamos está sempre, exatamente, ali, a um passo de onde estamos parados. A única coisa que nos separa da luz é a força da nossa vontade, a certeza do que queremos acreditar. A força está dentro de nós mesmos.
Pense Luz e verá luz. A sua luz. É ela que na verdade, ilumina o caminho.
O céu... bom... o céu na verdade é uma escuridão sem fim, um mistério apaixonante e maravilhoso. É só levar a lanterna do seu coração na viagem. Simples assim.