segunda-feira, 9 de março de 2015

Aprendizado da Dor

Dói.

Dor é dor, e dói mesmo. Não tem como disfarçar, justificar, remendar ou fingir de forte.
Dói.
Dói quando sonhamos demais e colocamos os pés no chão duro. Dói quando abrimos a alma e uma ventania nos derruba. Dói quando a verdade chega fulminante. Dói quando não temos o poder que desejamos. Dói quando pedimos, pedimos, e nunca somos ouvidos. Dói quando queremos compartilhar e não há com quem. Dói quando amamos e o Amor não chega como precisamos.
Dói fundo, fininho, dilacerando a alma docemente, sem terremoto nem furacão, e vai minando a vida a cada instante. Diminui o sorriso, diminui a vontade. Aumenta a dúvida e a fraqueza aparece.
Dor de amor é a pior dor do mundo. Não se pode curar como se desejaria. Cura-se como é possível. Geralmente sozinho. E no Amor, a última coisa que se desejaria é estar sozinho.
Alguns destroem o próprio mundo por causa da dor, outros o implodem educadamente, sem ninguém perceber. Mas dor é dor. Não se pode comparar nem medir.
Dor vem sempre com aprendizado. Ensinar é a função da dor. Mas ensinar o que? Aprender como, com os olhos nublados das lágrimas, da revolta, da mágoa, da decepção, da impotência, do cansaço?
Pois é... Aprender nossos limites.

Toda dor ensina sobre limites. Se dói é porque você avançou algum. Limites físicos, emocionais, mentais, espirituais. Em algum momento você foi além, ultrapassou alguma fronteira. Seja a do outro, seja a da Justiça, da Ordem, do Livre Arbítrio, seja a sua própria fronteira, para dentro. Algo foi transgredido. Este é o único motivo da dor.
Sendo assim, ela nasce dentro. Parece que vem de fora - a gente às vezes tem plena certeza que foi o outro que a causou - mas vem de dentro. Vem da vontade humana de controlar tudo, de criar planos e expectativas para tudo, de se apegar a sentimentos e necessidades que não funcionam mais.
Dói porque brigamos com a Verdade. Por não vê-la ou por vê-la e não aceitá-la. Ou por ignorá-la. Até o maior Amor do mundo não pode mudar a Verdade.
E depois da Dor, o que sobra é a tal da Verdade. Aquela mesma, que foi ignorada... Olhando, tranquila, imutável, constante. É o que é, e pronto. Dói, mas e daí? Bom... daí... Cura!
Curar... aí sim é o processo do Amor. Amor real, sem julgamento, que abraça, envolve, escuta e nutre. Assopra a ferida, e diz que vai fica tudo bem. Mesmo sem acreditar que vai ficar bem de novo - isso parece simplesmente impossível no auge da angústia - Amor-próprio ainda continua sendo a melhor saída...
Assopra a ferida, inspira, assopra de novo. Aos poucos o soluço passa. A respiração muda, troca o ar velho pelo novo. Continua assoprando.
Quando parar de arder muito, você consegue pensar. Aí, vai poder entender.
Mas por enquanto... assopra. Faz diferença.
Dor que é dor precisa de calma e carinho para curar. Não dá para ter raiva da dor. É o mesmo que se odiar, já que ela é sua... lembra do Amor-Próprio da cura? Então...
Fomos criados com poderes de auto-cura. Nosso corpo físico é capaz de se refazer de formas inacreditáveis. E todos os nossos corpos podem se regenerar depois de um trauma. Com cuidado, atenção, sem diminuir ou aumentar o problema. Com seriedade, assim como a cura de uma queimadura grave, ou um corte profundo. Devagar, com carinho, atenção e cuidado, aos poucos a cura vai aparecendo.
E deixa o saldo do aprendizado: a cicatriz. Esta, não podemos - nem devemos - evitar. Ela diz quem somos, o que passamos e o que já aprendemos. Cicatrizes são nossas marcas de coragem.
São mais duras e firmes que o tecido original. São mais fortes.

No coração as cicatrizes são brilhantes. Depois das dores curadas, aumentam o brilho da alma, criam a aura do Sábio.
Sábio é quem doeu e se fez curar. Quem aprendeu seus limites e os limites do outro. Quem respeita a si mesmo e não gera mais dor. Porque doer uma vez é coragem... A segunda é puro desperdício...










2 comentários:

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    1. Gratidão <3
      Fico feliz em tocar seu coração. Somos todos Luz!

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