segunda-feira, 18 de maio de 2015

Espirais da Vida


Era pra ser uma conversa de amigas.

Ela, invisível à maioria dos olhos mas tão bela aos meus como sempre, e eu, deitada na cama, com as mãos no coração, respirando fundo e querendo entender.
Aonde estava o que me faltava? Era falta ou apenas confusão? Precisava mudar ou apenas lapidar o passo?
Eu olhei para ela e vi o sorriso doce de sempre. Igualzinho ao que vi pela primeira vez. Tinha quase 12 anos, eu acho. Vi a grande pena branca na sua fronte, segura por um cordão de couro. E o nome veio à minha mente... White Feather. É... em inglês. E assim foi por muitos anos.
E hoje, depois de quase três décadas de convivência contínua e verdadeira, ela ainda me via como uma menina. Hoje, sou uma mulher, e ela, que era uma mulher para mim quando a conheci, me parece uma menina...


Eu sentia algo bem fundo no peito e sabia que ela também. E me olhava daquele jeito de sempre que diz "Vai, mergulha, há algo bom aí..."
Eu fui, rodando, descendo, descendo e rodando..

Um mar inteiro de possibilidades, era o que eu via. E depois escolhas, e mais possibilidades. Uma ciranda, uma roda sem fim, crescente, espiralada, rumando ao infinito... ou para dentro de mim.
Mas respirando dentro dela... eu vi um final. O final de toda uma era. De uma sequencia incontável de vidas, trabalhos, enganos, lutas, perdas, conquistas, amores e dores.
Sinceramente, foi muito bom. Parte de mim desejava profundamente um descanso, um desfecho, uma mudança, uma marca de fim. Uma permissão para reiniciar. "Amor pra recomeçar".
Todo meu desconforto se foi, em um relance apenas. No toque de consciência com aquela espiral de vida, da minha vida, toda a cura foi tocada. Foi um suspiro bom de liberdade, um mantra de gratidão. Eu fluía com a vida, eu respirava minhas escolhas..e só o que eu precisava era aprender a ser fiel ao que eu acabara de sentir.

Quando sua alma se despe para sua consciência pura, quando você sobe na espiral das sua verdades internas, uma por uma, cria um momento tão profundo e maravilhoso que é difícil descrever. Um segundo apenas, e tudo que te frustra não significa mais nada. Um respiração, e o dilema da vida se dissolve no pó.

Só sobra você - assim, inteira, nua, livre, independente, ardente, clamando pela vida nova. Sobra uma luz intensa que não precisa mais da aprovação de ninguém, que confia de um tanto em si mesma que nada poderia pará-la.

Sobra apenas uma verdade enorme e indiscutível de que tudo o que dói não faz parte de você, pois você é amor e luz, apenas isso. O resto te ensinaram para te manipular, te constranger, diminuir, enfraquecer, te parar. Eu sou Luz.
E Luz pode o que quiser. Principalmente o maior prazer de qualquer Luz que é iluminar algum escuro por aí. Qualquer escuro que puder ser iluminado pela sua Luz.
Não há graça em ser Luz e estar embaixo de holofotes, ou apenas compartilhar o que já é conhecido. O belo trabalho da Luz é trazer o que não é visto, conhecido, sabido, aceito, entendido, compreendido, à visão. Iluminar alguma sombra. É aí que a Luz se faz poderosa e feliz.
Eu entendi naquele mergulho... Apenas quem se vê na sua sombra é que precisa estar sempre na consciência do conhecido, precisa seguir o que já foi feito, precisa acreditar no que já foi dito. Apenas quem não compreende sua própria Luz precisa da Luz de alguém mais.
Minha luz, por sua vez, tinha a alma de desbravadora, inovadora, corajosa e destemida. Foi muito bom senti-la.

Ela poderia responder a qualquer pergunta que a ameaçasse, cuidar gentilmente de qualquer obstáculo que a atrasasse; ela seguiria tranquila, em curvas, ao som de uma bela melodia angélica, um mantra sagrado, dançando através das pessoas, driblando ideias, envolvendo outras, transformando a paisagem, desvendando mistérios, trazendo respostas, juntando os pedaços, fazendo respirar....


Eu era o Todo e o Todo estava dentro de mim, pulsando, junto com meu coração. Eu o respirava, forte, mas doce, e entendia que eu fazia parte de algo muito, muito maior que as dúvidas que me assolavam no início do meu dia. Ou nas últimas semanas. Ou dos últimos milênios. Eu sabia de tudo, naquele momento, e posso dizer, que ali, eu era a própria magia.

Respirei profundamente aquelas luzes, as cores, os sons. Trouxe tudo que pude para dentro, na tentativa de curar os equívocos, as dores ou alguma cicatriz insistente. E fui deixando a consciência ir... em espiral.
Adormeci, com as mãos no peito, respiração ofegante, por vários minutos. Não lembro de nada. Não sonhei. Quase uma hora depois, meus olhos se abriram e tentei mentalizar minhas vivências. Sem sucesso.
O que aprendi é que coisas do coração não se mentalizam. É muito para muito pouco. É como escoar o mar pela vazão de um riacho. Impossível.
Então respirei e pedi que minha mente se permitisse tão, mas tão aberta, que nenhum filtro antigo sujasse as memórias de minha viagem. Que ela fosse gentil no dia a dia, que espiralasse pelas minhas vivências, quando precisasse dela nas minhas escolhas, ideias e atitudes. Que acreditasse que há algo novo muito melhor que tudo o que ela guarda, e era tudo para mim.

Não sei se ela ouviu tudo. Espero profundamente que sim. Foram séculos de trabalho para estar aqui, exatamente aqui, agora, e participar deste momento. Foram séculos de preparação para se libertar uma luz tão pura, tão poderosa, gentil e bela. O mínimo que minha mente precisa ser é parceira.
E volto fluindo.

Minha amiga continuava ali, ao meu lado, depois do meu sono, com sua aura cor-de-rosa, envolvendo minha própria aura, meu corpo, minha vontade, me trazendo a ideia de que estava tudo bem.. Pelo sorriso calmo dela, acho que estou realmente, indo bem. Começamos isso juntas e hoje vejo que é justo que terminássemos juntas esta bela história de evolução e superação. No início como no fim. Dentro como fora. Acima como abaixo. Tudo parte da mesma energia, lados da mesma moeda, vivências da mesma história.

A espiral da concha, do caracol, da evolução, da energia subindo aos chakras, da galáxia, da chama violeta... A mesma magia, o mesmo encanto, a mesma continuidade crescente, evoluindo, expandindo, ou centrando, mergulhando... dependo apenas da sua intenção.

Final? Não acredito mais nisso. Não há finais em espirais, apenas subidas de nível. Este é um mistério que minha Luz teve alegria em iluminar. Não há finais, e isso não é mais um mistério. É realidade.

Assim como o Amor. Ou a Alegria. Ou a evolução. Puras realidades. Minhas, suas. Todas esperando para surgir na Luz de cada um de nós.
Cada um no seu agora.

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