terça-feira, 29 de maio de 2012

Paciência



Prometi que esperaria. Mas esperaria de verdade.
Prometi que viveria os dias redescobrindo a vida, minuto a minuto, sem julgar, projetar, sem expectativa alguma.
Prometi que veria o sol nascer e sorriria, que veria cada rosto à minha frente e prestaria atenção na sua alma, e receberia a sua mensagem. Prometi que seguiria os sinais do Universo a cada passo, que leria minhas direções em cada palavra que ouvisse, e nas batidas do meu coração.
Prometi que daria tempo para cada inspirar e expirar, que daria oportunidade para todo o meu corpo sentir o novo ar entrar antes de jogar fora o minuto passado e andar adiante. Prometi que leria o que me fizesse sorrir, que só guardaria o que me fizesse brilhar quando me lembrasse.
Prometi ver o entardecer com calma e gratidão, e deixar ir com o sol todo o dia passado. Prometi encontrar a noite com a alma branca como a lua, e abrir a mente para os mistérios ocultos nos sonhos. E só.
E no outro dia, esperaria um pouco mais.
Porque esperar é tão poético, sutil, tênue, tão frágil. Esperar não cria, não muda, não move. Mas às vezes protege, esclarece, resolve. Esperar explica. Ou complica. Mas às vezes não dá para ser fácil, afinal.
Esperar é a única forma de deixar a criação acontecer quando o que se pode, se finda. Esperar também é divino e belo. E requer coragem.
Eu entendi que nesta energia de quaresma, de introspecção, de questionamento, de testes e revalorização de conceitos, a melhor opção seria esperar. Esperar o que vem de fora, e ao mesmo tempo revolucionar o que mora dentro.
Prometi que esperaria, pois eu saberia quando a espera chegasse ao fim, se completasse.
Esperar o quê? Acredito que a vida. Uma nova vida. A vida que se renova na Páscoa, a vida que se renova quando o entendimento chega finalmente ao ápice, e se sente que se pode novamente realizar. Com o que sobrar. Ou talvez não possa sobrar. Talvez a tarefa seja criar o novo, a partir apenas do novo. Sem bagagem.
Eu prometi que não me prenderia à bagagem. Que esperaria sozinha, em essência pura e simples, mas inteira e renovada, de braços abertos, pronta para abraçar novamente. Porque o futuro vai ser digno de abraço.
Mesmo quando falo, sinto que ouço. Mesmo de olhos fechados, sinto que observo. Mesmo quando ando, sinto que espero.
Eu prometi que esperaria. Esperaria algo assim, tão bom, que precisa de tempo para chegar.
E saber disso me acalma quando penso em seguir.
E me faz continuar a esperar.

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