terça-feira, 29 de maio de 2012

Desistir...


A sobrevivência é algo sórdido às vezes. Estrangula a imaginação.
Para existir, desista, parecem me dizer os ventos frios de Outono que me chegam ao rosto, me despertando do transe.
Desista do que queria. Desista de entender. Desista de saber. Desista de poder. Desista, desista, desista.
Assisti ali, sentada na praia da minha vida, cada onda levar lentamente, um pedaço de mim. Uma após a outra, engoliam um pedaço da minha história, apagavam meus sonhos escritos na areia, ruíam os castelos tão frágeis sobre os quais ergui minhas certezas.
Elas se iam tranquilas, como se não percebessem o estrago que faziam. Deixavam a areia lisa, sem marcas, sem história para contar.
Tudo se foi. Parece que nada mais ficou. No final, As histórias só sobraram dentro de mim. Ali, as ondas não puderam alcançar. Infelizmente. (Ou não?)
Esperei um milagre, desejei o que pude. No início tentei controlar. Entrei e saí da alma tantas vezes quanto me foram dadas as chances através dos dias. Mergulhei nas lágrimas não resolvidas, em descobertas não vividas, em detalhes de vida que desconhecia, mas que poderiam ser minha salvação.
Eu quis reagir, eu quis lutar.Não havia nada a fazer, entretanto. Desisti.
No final, fiquei exausta, ali, sentada, olhando o pôr-do-sol alaranjado dos dias que terminam, e observando no horizonte a sua união com o mar das emoções que nunca se findam, nem se acalmam. Indo e vindo, trazendo e levando. Impondo a vida do jeito que ela é, desprezando o que a alma pediu. Ou o que o coração ardentemente, desejou.
Nada mudou. Ou melhor, tudo continuou mudando, ininterruptamente. Mas nada na direção em que meus olhos olhavam com tanto ardor. Então os fechei. Foi melhor assim.
O desapego é louvável. Mas gostaria que ele se desapegasse de mim um pouco. Que fosse pousar na praia da vida de outra pessoa, para variar.
Desista, desista, desista. Sobrevivo então. Afinal, o que nos resta depois do tal desapego? 
Fechei apertadamente meus olhos, com um medo infantil de descobrir. O que há depois dos sonhos que se foram? O que existe depois das lágrimas que secaram e lavaram sua alma? Qual será o rosto do completamente desconhecido?
Eu poderia abrir meus olhos, eu poderia tentar. Mas tenho medo de perder o que guardei com eles fechados, e nunca mais me encontrar. O que será de mim sem tudo o que tanto amava?
Não, eu não deixei o desapego tomar conta de mim. As águas chegam aos meus pés, mas eu os encolho, me recolho para dentro de mim, como se pudesse fugir do destino. Não posso. Mas que remédio, parece doer tanto.
E se ele me esquecer, e se eu ficar bem quietinha?
O vento me diz que tudo ficará bem, que nada vai me ferir. "Ilusão, o sofrimento é pura ilusão!" ecoam pelos ares animados. "O fim do desapego é a paz."
Não sei. Continuo apenas escutando as ondas do mar. Elas não param, com seu ir e vir melancólico, ignorando meu desespero. O vento zuni, esfria minha pele, me chamando para acordar.
Eu não quero. Não estou pronta. Ainda não.

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